O envelope: alice bispo
- cafe & outras palavras
- 9 de set. de 2019
- 2 min de leitura

A minha supervisora, uns dois meses depois que eu entrei, me perguntou se eu tinha visto um envelope pequeno, enviado há umas duas semanas, por uma juíza ou qualquer cargo "importante", eu não lembro direito. Eu disse que não tinha visto. Depois ela me perguntou de novo, afinal com uma criança a gente sempre repete. E eu disse que não. Daí ela disse que eu procurasse, então, um envelope, porque era pra esse envelope estar ali no escritório e - obviamente - ter passado por mim. Eu concordei, procurei o envelope, mas, não achei. Ela, nesse dia, não falou mais nada.
No dia seguinte, logo que cheguei, ela me perguntou se eu tinha falado sobre o envelope com a estagiária da tarde e eu disse que não. Ela me olhou como se eu fosse idiota e pediu que eu, novamente, procurasse o envelope, porque ela estava sendo pressionada "por gente de cima" sobre o destino do diabo do envelope. (eu estou repetindo envelope, envelope, envelope demais? sim, né?) Enfim. Eu procurei, procurei, deixei um bilhete para a outra estagiária, busquei em pastas que nada tinham a ver com o problema, e ainda me senti culpada na hora do almoço e não consegui comer bem. Isso foi no segundo dia.
No terceiro dia, ela, convencida de minha incompetência, veio me dar um ultimato. Mas eu disse que havia procurado em tudo, mas esse envelope não estava ali. Então, na frente de todos, ela começou a falar sobre responsabilidades. Disse que eu era jovem e era totalmente aceitável que eu tivesse perdido um documento, mas que era importante eu ser sincera a todo momento, para que pudessem achar o perdido. Ela falou, como você deve saber, de outra forma. Mas foi isso aí. E eu fiquei constrangida e falei que me desculpassem e que eu seria mais cuidadosa. Tudo isso com uma gagueira infernal.
Uma semana depois, minha supervisora, logo quando entrou na sala, me chamou para conversar. "Olha, eu fui um pouco áspera com você no outro dia sobre o envelope, mas eu peço desculpas. A gente na correria do dia-a-dia acaba esquecendo de você. O envelope nem foi enviado ainda, foi uma confusão com o pessoal de lá. Era só pra deixar claro que você não teve culpa nenhuma nisso e que eu brigo quando é necessário, mas também me desculpo, também quando necessário. Tudo bem?"
E assim a corda sempre arrebenta no lado dos fodidos, quer dizer, dos fracos.
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