O homem baixinho...: roberto prado
- cafe & outras palavras
- 10 de set. de 2019
- 3 min de leitura

E um dia então a Alzira Marta (creio ser esse o nome dela, afinal lá vai tanto tempo...) grita e sacode aquele corpanzão:
- "Eu ainda hei de pisar na cabeça de cada um de vocês, de vocês - arfava sufocada de ódio - na cabeça de cada um, cada um!"
Essa fúria foi descarregada sobre nós: eu, Vadinho, Agostinho [22] Cláudio [23] e outros tantos, pela Alzira Marta, caseira [24] e Diretora da peça “A História do Homem Baixinho que Dava Corda no Relógio da Matriz”.
Um espetáculo infantil [25] que tinha tudo para ser um sucesso, fosse ela devidamente ensaiada e apresentada.
Reuníamos -nos todos os sábados à tarde em sua – dela - casa para entre outras coisas ensaiarmos a dita peça, mas entre montagem de cenário, caipirinhas, brigas, caipirinhas, discussões por conta de qualquer besteira, vinho, discussão por conta de figurino, a última coisa que conseguíamos fazer, era ensaiar.
- Relendo esse texto, lembrei-me do “Primeiro Frango Corrupto”, mas essa é outra história para uma outra ocasião...
Passamos meses nesse mister, até que um dia ela, Alzira Marta, por fim explodiu. Não me lembro de nenhum detalhe, aliás, nem deveria estar escrevendo essas memórias aqui, pois se há fragmentos de memória, essa é absolutamente a mais fragmentada.
Lembro-me de uma ocasião em que - não sei ou não me recordo direito - o Vadinho (sempre ele, sempre ele) foi fiador para a compra de um fogão (quando ele não é fiador é padrinho e presenteia o casal com fogões e/ou geladeiras [26], mas que acabou por pagar integralmente as prestações. Preciso um dia averiguar esses detalhes com ele.
Outra feita, ele passou uma tarde inteira velando pela supracitada que passava mal, de cama. (detalhes precisos de mais detalhes!).
Mas se tem uma coisa que nunca, mas nunca vou esquecer [27] foi o dia em que conheci a Alzira Marta.
Toda nossa amizade está baseada em nossos fracassos conjuntos no Teatro, mas sozinho, assim como eu, Vadinho teve lá sua glória. E foi num desses seus dias gloriosos que acabei me metendo nessa história.
Apresentava ele e o seu amigo Cláudio a peça “UMA CERTA CARMEM” em 1987 [28], dirigida por Ronaldo Ciambroni, onde o Vadinho interpretava um dos músicos do Bando da Lua e o amigo dele juntamente com Alzira Marta, interpretavam respectivamente Grande Otelo e Araci de Almeida.
Assisti à peça numa das últimas fileiras. E míope que era [29] - envergonho-me aqui de escrever essas linhas - fiquei fascinado por aquela mocinha que cantava e dançava tão bem. Ao fim do espetáculo, já nos camarins em meio àquele oba-oba, pergunto aos dois pela tal mocinha. Quando sou apresentado a ela, que susto, a dita mocinha era senhora de seus sessenta e poucos anos...
Por muitos anos fui motivo de chacota por conta dessa estupidez.
Relendo esse capítulo acabo por ter certeza do título que escolhi para essa série de textos sobre mim e o Vadinho: fragmentos de memórias.
Mas voltando ao assunto, depois de muitas reuniões e fracassos, Alzira Marta achou que nós a estávamos sabotando, e por fim despejou toda a sua fúria sobre nós, dando por encerrada mais uma tentativa de subirmos ao palco e sermos ovacionados.
O fracasso nos perseguia...
[22] O corcunda. Como me esmerei na confecção daquela fantasia!
[23] Aquele mesmo da história do cachorro.
[24] E nós que pensávamos que ela a dona daquela casa com piscina...
[25] Quem me conhece sabe que detesto teatro infantil. Viva Herodes!
[26] O que as Casas Bahia devem a essa criatura!
[27] E sabe Deus como eu gostaria
[28] Uma data, uma data!
[29] 15º de miopia
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