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O morto a a segunda-feira: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 6 de mai. de 2020
  • 2 min de leitura

O homem está morto desde as nove horas da manhã, agora são dez horas e quarenta minutos, e o infeliz ainda está lá, morto e assado sobre a passarela. A polícia isolou o corpo e impede que os transeuntes passem pela dita passarela.

Não que a usem com freqüência, as pessoas preferem desafiar os caminhões que passam em alta velocidade, a “gastar” uns pouquíssimos minutos atravessando a avenida com segurança.

E suprema ironia, quando alguém o faz, morre. Ou é morto. Tentando fugir do chavão e lugar-comum, sou obrigado a escrever:

-Há controvérsias...

Quando chamaram minha atenção à janela, já estava lá o corpo estendido no chão... (parece um refrão de música, essa vida além de não ter mais sentido, não originalidade).

Quase que em coro, as colegas que trabalham comigo gritavam, não posso dizer que em uníssono, haja vista que estava andando de um lado para outro desesperadas:

-Foi o PCC, foi o PCC, aí meu Deus o PCC chegou!

Tirei meus fones dos ouvidos e tentei, debalde, fazê-las entender que o sujeito poderia ter sofrido um infarto fulminante, talvez pelo esforço de subir tal escada, muitos degraus, talvez por causa desse calor fora de época, etc.

Quando, abrindo “a porta, com um chute, chega a “mais última” noticia”:

-Ele foi morto com um tiro na cabeça!

E lá se foi por água abaixo a minha teoria pacifista e racional...

Olho para a janela, em frente à minha mesa de trabalho, e vejo que já embrulharam o presunto. Um lençol branco, que brilha ainda mais com o sol refletindo nele. Dois nós prendem o corpo, um em seus pés, o outro na cabeça. Já o colocaram numa caixa e o levam.

Minha crônica poderia continuar e colocar mais umas observações jocosas, mas vou terminar com a saída de seu corpo.

Vendo o IML levando o cadáver termino essa croniquinha.

1 comentario


Cafe e outras Palavras
Cafe e outras Palavras
06 may 2020

"Croniquinha" só se for na quantidade de linhas, mas muito profunda.

Maria do Céu.

Preciso agradecer ao amigo que me recomendou essa Revista!

Obrigado a todos os que aqui escrevem.

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