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O porta-retratos de celeste: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 19 de fev. de 2020
  • 1 min de leitura

Acabara de polir o porta-retratos de Celeste, e o colocara sobre a velha cômoda. Sentou-se na poltrona e ficou a contemplar a foto. Admirava-se da beleza jovial de Celeste, o sorriso, os cabelos, o vestido azul-claro, as mãos brancas, o colo levemente sardento...

Celeste imortalizada naquela foto.

As horas passavam lentamente e Lúcio continuava a olhar para o porta-retratos alheio a tudo mais.

- Celeste... - murmurava com um sorriso maroto e baboso.

Pensava sobre o milagre da fotografia, da capacidade, do poder de imortalizar o momento e as pessoas.

- Celeste tão linda Celeste... - resmungava baixinho para a foto.

A barba por fazer, os cabelos longos e desgrenhados, as roupas puídas, as costa curvadas, enfim um homem acabado e apaixonado por uma foto, um momento fugidio, um período passado de sua vida.

Tantos sonhos, tantos planos, projetos de vida, a certeza de envelhecerem juntos.

Lúcio e Celeste, Celeste e Lúcio.

Mas o tempo inclemente que devora os próprios filhos e os sonhos levou o melhor de Celeste...

Levou-lhe a juventude, o viço, a pele de pêssego, o sorriso, o brilho dos cabelos cor de ouro, a alegria, enfim levou de Lúcio a sua Celeste, que hoje vive em um porta-retratos de prata que ele pule todos os dias.

- Celeste...

Dos fundos da casa uma voz aguda e estridente chama seu nome:

- Lúcio seu vagabundo, cadê você, seu imprestável?

Lúcio enxuga uma lágrima amarga que corre pelas rugas de seu rosto magro e seco, e quase chorando olha para o porta-retratos de Celeste e se pergunta:

- Celeste o que tempo fez com você meu amor? – E com dificuldade levanta-se da poltrona para atender aos gritos de Celeste - a velha!

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