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O rato: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 21 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Silêncio em casa é noite hora da novela, luz apagada na sala, o único som vem da televisão, quando um grito histérico rompe a paz domiciliar.

- Meu Deus um rato!

O marido corre atrás de uma vassoura, a mulher escala furiosamente a estante da sala. Móveis são arrastados, cadeiras jogadas para os lados, gavetas voam em todas as direções, gritos de ordem, gritos de socorro, vizinhos acorrem à residência, a gorda da esquina berra:

- Ladrão, ladrão! – tosse engasgada com a asma.

Os cachorros ladram, latem, uivam alucinadamente.

Momentos de loucuras e histeria.

Vários minutos depois o marido coloca as roupas da mulher dentro do carro e a leva para a casa da mãe...

- Só volto quando você pegar essa rato – chora e soluça desconsolada.

O marido volta para casa, agora, sozinho revira os armários, tira peça por peça, abre as gavetas, sacode calcinhas, cuecas, meias, meias-calças, sapatos, lenços, a única gravata - usada em seu casamento -, empurra o guarda-roupas, a penteadeira, o fogão, a geladeira, desmonta a coifa, retira a máquina de lavar do canto em que estava na área de serviço, olha sobre o telhado da lavanderia, levou o colchão da cama de casal para fora - nas pontas dos pés- e o surrou com uma vassoura...

Com as mãos na cintura declarou:

- Ah! Espantei esse miserável.

Satisfeito pega o colchão, injustamente surrado e o leva de volta para o quarto, deita-se sobre ele dorme.

- Amanhã é outro dia – murmura e sonha com Tom e Jerry...

Dia seguinte.

Nove e meia da manha o telefone toca.

Ele atende e invés de alô ouve um grito:

- O rato voltou, ele voltou, eu estou pendurada em cima do guarda-roupa, venha aqui me socorrer!

Ele suspira e pensa:

- Achei que ela ficaria na casa da mãe até a noite...

Ele conta seu drama familiar ao chefe e este às gargalhadas o dispensa para salvar a “princesa encastelada” no alto do guarda-roupa.

Ao chegar encontra a casa no mesmo estado que estava quando saiu pela manhã. Vai ao quarto e vê a esposa sobre o guarda-roupa enrolada num edredom chorando convulsivamente.

- Ou você mata esse rato ou acabou o nosso casamento. Dê um jeito nele!

Quando o marido vai em direção à cozinha ela grita:

- Aproveita e me faz um café!

Na cozinha ele começa a ferver a água para o café quando vê, enfim, o rato, um mísero camundongo, o nosso vulgar “mus musculus”. Imediatamente ele esquece a água a ferver e munido de um rolo de abrir massas, a arma mais à mão no momento e começa a correr atrás do bicho.

E aí se inicia a demolição da casa.

Derrubando a mesa, as cadeiras, vasos, todos os moveis e bibelôs encostados nas paredes – o dito roedor corre sempre rente às paredes, lembre-se disso caro leitor – ele chega ao quarto onde a mulher ainda aos gritos encontra-se abrigada.

- O rato, o rato, mata esse rato, mata esse rato!

Atarantado entre moer o rato e acalmar a mulher, por fim sem querer, pisa no bicho...

- Animal! - urra a mulher. – Como você pode fazer uma coisa dessas com o bichinho?

Com as mãos na cintura, olhando a poça de sangue e pelos marrons-acinzentado no chão do quarto e mulher sobre o guarda-roupa gritando ele fala, mais para si que para ela:

- Vou para a casa da minha mãe, quando você descer daí e limpar essa bagunça eu volto. Fui!

Moral da história?

Encontre uma se alguma houver...

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