top of page

O último café do dia: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 20 de jan. de 2021
  • 2 min de leitura


Sentando-se à mesa o velho poeta pediu um café e acendeu um cigarro, folheou erraticamente a revista à sua frente, seus olhos corriam as páginas, mas nada liam, seus pensamentos voam longe deixando lá o corpo sonâmbulo, o café frio, o cigarro queimado e uma revista desfolhada e amassada.

O garçom olhava par o relógio de cinco em cinco minutos esperando a hora de fechar o bar, o chão já estava varrido, todos os copos e xícaras lavados, lixo recolhido e o velho ali sentado esperando sabe Deus o quê.

No céu as primeiras estrelas começavam a piscar suas luzes, os ônibus lotados levavam as pessoas de voltas para suas casas e ele ali esperando o sujeito ir embora.

- Hoje perco a hora, o ônibus e a minha novela. – resmunga para o velho na mesa ouvir, mas nada aconteceu, pois ele agora começava a mexer o café frio com a colherzinha e acendia outro cigarro.

O garçom olha para a placa na parede onde se lê “SÓ FECHAMOS QUANDO SAI O ÚLTIMO FREGUÊS”.


- “O-último-freguês-pagante”! – completa rangendo os dentes. O tempo passa, o chão é todo varrido, na rua o caminhão do lixeiro recolhe os sacos e latas de lixo, os ônibus agora passam mais vazios e esparsamente, as ruas esvaziam, e o velho continua sentado.

- Pelo menos agora ele fumou um cigarro inteiro! - Fala o garçom para seu reflexo na prateleira do bar.

Ele já não tem mais o que fazer, olha para o relógio, nada mais o que limpar, e olha para o relógio outra vez, nada mais o que arrumar, e olha para o relógio; coloca as cadeiras sobre as mesas e põe-se a apagar as luzes – olhando para o relógio - pois assim, quem sabe, o velho levante-se e vá embora...

Uma a uma ele começa a apagar as luzes até que somente uma sobre a mesa com o velho agora frio, duro e com os dedos, médio e indicador queimados pela brasa do cigarro...

- Meu São Jorge, mas era só o que me faltava hoje! – grita o garçom jogando a vassoura contra a parede.

Lembrem-se, isso é uma ficção!

Comments


©2019 by CAFÉ E OUTRAS PALAVRAS. Proudly created with Wix.com

bottom of page