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Patifes: roberto prado

  • Foto do escritor: cafe & outras palavras
    cafe & outras palavras
  • 22 de ago. de 2019
  • 3 min de leitura


  • CADA MISERÁVEL COM SUA MOEDA Como essa miserável é baratinha, basta uma florzinha, um aceno, uma promessa, um “amanhã te ligo” e seu dia está ganho. O sorriso bobo enfeita-lhe a cara parva. Tão bonitinha, mas... Dez horas da noite sábado, num subúrbio o telefone toca. - Alô. - Vou passar ai. Te arruma que vou te pegar. É hoje o dia e nem tente me enrolar. - Quem fala? – pergunta com voz histriônica e irritante. - Ora, não banque a burra, sou eu. Estava esperando outra pessoa? - Ah! É você... – desdenha. - Claro que sou, estava esperando quem? - Estava não, estou! O Ginno vem me pegar pra sair. - Está me traindo, sua vadia? - Traindo? Não tenho nada com você... O Ginno é meu namorado – ênfase no meu – Você não é nada prá mim. - Não sou nem nunca serei, já te falei isso. Contigo só quero uma coisa, e você sabe o que é – ri com escárnio. - Não me procure mais, o Ginno já está aqui na porta. - De carro? - Não... - De moto? -Você sabe que o Ginno é um duro... - responde entre magoada e arrependida da resposta. - Você não presta nem para escolher namorado mesmo. Não presta. - Então por que você corre atrás de mim? - Justamente por isso, você não presta. Não presta nadinha... - Você me magoa falando assim... – finge que chora. - Engole esse choro falso, nem chorar você sabe. Mentirosa... - Mentirosa, eu ? - Sim. Se o Ginno tivesse chegado você já teria desligado o telefone... - Vou desligar. - Antes me responda. - O quê? - Vocês vão a um motel ou pra casa dele...? - ... (silêncio) - Safada. - Prá casa dele... - O duro não tem grana prum motelzinho? - Não é isso, a casa dele é muito melhor que um motel qualquer, lá tem uma escadaria... - Uma o quê? Escadaria? - ... (silêncio) - Você não presta mesmo. A que horas vai voltar de lá? - Uma ou duas horas da manhã, afinal tenho que ver meus filhos voltarem da rua... - Você não presta mesmo, não presta mesmo! - Você vai passar aqui quando eu voltar? - Não posso, amanhã tenho que fazer a feira com a minha mulher. Se quiser me ver é agora, despacha o Ginno, diz que está com dor de barriga, diz que desceu antes da hora, diz que teu ex-marido quer discutir a pensão das crianças, minta, afinal mentir é muito natural prá você, ande, invente alguma coisa. Já estou saindo. - Olha..., vou pensar em alguma coisa... - É o seguinte, vou desligar e te chamo em cinco minutos, cinco minutos com uma resposta. Dez minutos depois o telefone toca. -Alô - E então? - Despachei o Ginno... - Que pena, resolvi não te ver mais. Olhe, estive pensando, não me procure nunca mais, ok, nunca mais, me esqueça, apague meu celular, não me procure... -... (soluços, ela chora baixinho) - Alô? Você já cortou os pulsos? - Não... Você me fez desmarcar com o Ginno prá quê? E agora quem vai arrumar a fiação da sala? As goteiras do teto... - Te vira. Não é assim que você sempre faz? Te vira, liga pro Ginno, diz que mudou de idéia... - Ainda te mato um dia! Bate o telefone. Passada meia-hora... Telefone toca - Ainda está ai vadia? - Mudou de idéia vem me buscar? Ainda estou arrumada – ri – Aproveita que o perfume ainda não venceu. - Vou ai sim, mas nada de sairmos, pode ir tirando a roupa, meia hora estou ai. Mande seus filhos prá casa do pai. Solta o cachorro na rua que hoje não estou pra latidos. - Tá bom. Vai querer jantar quando chegar? - Você não vale nada mesmo... - Essa é a tua sorte! – ri aliviada, pois pensa que a noite está ganha. - Meia hora, esteja pronta, nada de me pressionar prá largar a família, e trate de chamar o Ginno para arrumar essa goteira, pois se chover durante a noite me levanto e vou embora. Ele não apareceu, o cachorro fugiu, durante toda a noite choveu. Pela manhã... - Ginno...? Sou eu...

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