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Sobre a culpa e outras besteiras: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 6 de mai. de 2020
  • 2 min de leitura

Culpa.

Discutia isso com o Rodrigo hoje. Culpas de haveres, e culpas de quereres.

Por que nos culpamos? Porque nos pegaram? Porque nos viram? Porque nossos olhos nos acusam diante do espelho?

Culpa.

Pecamos por pensamentos, atos e palavras.

Ah! Essa minha cultura judaico-cristã. Mas que atire a primeira pedra quem nunca pecou.

(Fico sossegado nessas horas por não possuir ações de pedreiras. Pelo visto ninguém atirou nenhuma pedra, certo?)

Quero crer que a minha meia-dúzia de leitores é honesta, pelo menos consigo mesmo.

Culpa.

Culpamo-nos por tantas coisas bestas, e nos escusamos de outras realmente condenáveis.

Mas discutíamos outra forma de culpa.

O pensamento, esse mostro indomável que trazemos dentro de nós, e que por inexplicável que seja, é muito maior que nós.

Quantas vezes nos pegamos pensando em algo inominável, algo que conscientemente nunca faríamos que condenaríamos veementemente no próximo?

Um exemplo, besta, mas um exemplo, vivo fazendo regime, mas não posso ver um doce que chego a babar.

-Pecadilho! - Dirão vocês.

Concordo plenamente. Mas e se vemos uma mulher bonita, uma jovem atraente. E se porventura ela dá com o nosso olhar, sorri, mexe o cabelo daquele jeito, sorri um sorriso de fazer covinhas...? Uma torrente de pensamentos libidinosos nos assolam, por um segundo vivemos uma vida de venturas mil, imaginamos as maiores besteiras. Largar a família, deixar o emprego, começar vida nova na Argentina, quem sabe vendendo pulseiras e outras quinquilharias. Ir para a Bahia e morar na praia vivendo de amor eterno...

Um segundo, um mísero e desgraçado segundo, destruímos toda uma vida. Largamos a mulher com quem vivemos os tempo duros, os filhos que às duras penas tentamos educar dentro dos valores (ai ai ai) cristãos/ocidentais, e afundamos na lama da maledicência um bom nome construído com muito suor, muita lágrima e sangue.

Culpa = Arrependimento.

Tivemos toda a juventude para errar. E erramos até na hora de errar. Agora o mal já está feito. Não adianta chorar sobre o leite derramado.

Para terminar a conversa, o Rodrigo me enviou esse poema do Olavo Bilac:

Remorso

Às vezes uma dor me desespera...

Nestas ânsias e dúvidas em que ando,

Cismo e padeço, neste outono, quando

Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,

Sem os gozar numa explosão sincera...

Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera

Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;

Choro neste começo de velhice,

Mártir da hipocrisia ou da virtude.

Os beijos que não tive por tolice,

Por timidez o que sofrer não pude,

E por pudor os versos que não disse!

A propósito, aquela mocinha, não sorriu para você, foi para aquele rapaz musculoso e cheio de tatuagens que estava encostado no balcão do bar bebendo cerveja...

Positivamente, a vida não presta.

1 Comment


Cafe e outras Palavras
Cafe e outras Palavras
May 06, 2020

Texto delicioso, fez-me ver/ler Bilac com outros olhos.

Essa mocinha foi a cereja do bolo.

Parabéns!


R. Fedler

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