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Sobre gaviões e bem-te-vis: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 21 de out. de 2020
  • 2 min de leitura

Enquanto tomo banho olho pela janela e vejo no prédio em frente, no telhado, um casal – suponho que seja um casal, nada me confirma, nem aliança nas garras ou mesmo um crachá - de gaviões que devoram filhotes de bem-te-vi que todo verão chocam seus ovos ali.

Divirto-me vendo como esses pequenos pássaros são tão bravos na defesa de suas crias. É impressionante a coragem deles batendo nos gaviões, voando, furiosos, como se fossem pilotos Kamikazes jogando-se suicidas ora sobre as costas, ora sob suas asas, fazendo com que a ave fuja “com o rabo entre as pernas” para longe de seus ninhos.

Mas assim como há o dia da caça, o que vi de minha janela foi o dia do caçador (terei invertido o antigo dito popular?).

Enquanto me demorava no banho, para preocupação e desgosto dos que se preocupam com as reservas de água do planeta, via o lauto banquete dos falciformes (vide mais na Wikipédia), a cada bicada era uma pena que voava.

Lá embaixo, na rua a vida seguia tranquilamente, as pessoas indo e vindo com suas vidas enquanto três andares acima – o drama - toda uma geração de bem-te-vis era devorada.

De toda essa desgraça só sobraram as carcaças, que logo seriam devoradas pelos urubus, os eternos lixeiros da natureza, e umas poucas penas, que espalhadas pelo vento, acabaram presas em galhos de árvores e espalhadas pelas ruas...

Não sofri pelo genocídio que testemunhei– suporá o leitor que não tenho coração, mas afirmo que estará enganado em tal suposição - afinal nesse mundo de Deus, há mais bem-te-vis que gaviões...

Terminado o longo banho, saí para rua e acabei esquecendo tudo isso, afinal cada um trava a sua batalha pessoal a cada dia, ora ganhando, ora...

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