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“Staplaft”: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 9 de fev. de 2021
  • 2 min de leitura

OU COMO DUROU POUCO A MINHA CARREIRA DE LIDER MILITAR


Não vou me demorar no relato de minha triste história.

Ela começou assim numa quinta-feira de céu azul claro que mais parecia uma pintura, um dia tão lindo que só serve para aumentar ainda mais a ironia de tudo isso.

Estávamos em guerra e os inimigos se aproximavam de nossa cidade. Todas as pessoas importantes estavam reunidas na sala principal da prefeitura onde eu pedira a palavra. E ai começa a minha desdita...

- Isso não pode continuar assim, as hordas inimigas já estão nas nossas barbas – gritei e bati com mão espalmada no tampo da mesa.

Esperava que o som fosse algo parecido com um trovão, que derrubasse os copos e as canetas, mas o som que produzi saiu mais parecido com um “staplaft”. Um som parecido com alguma coisa chata, plana, fina e inexpressiva caindo n’água. Um efeito bem pouco másculo, sem dúvida!

Ao redor da mesa as pessoas me olharam mais com piedade do que com medo ou respeito. "Comecei mal, comecei bem mal." - pensei com meus botões. Mas à essa hora já havia perdido o fio da meada e seja lá qual fosse a crise, com aquela batida de mão na mesa eu já tinha demonstrado ser incapaz de resolve-la.

Ninguém seguiria a liderança de um homem que bate na mesa e faz “staplaft”, ninguém em sã consciência me seguiria... Que tipo de líder faz “staplaft” numa hora de crise? Só eu! Esse líder de quinta categoria.

Por parcos segundos pensei ser Gêngis Kan, Aníbal, César, Napoleão, um general, um líder de homens, mas o “staplaft” acabou com a minha vida, minha liderança virou fumaça e fiquei ali, feito um fantasma, deixado de existir.

Por mim, a crise poderia ter aumentado tanto naquela hora que o mundo poderia ter se acabado, os inimigos poderiam ter nos invadido, matados a todos e a terra ter me engolido.

Mas nada disso aconteceu. O céu continuou ali, azul, e as pessoas em volta da mesa me olhando. Sai de lá humilhado e olhando para minha mão, me perguntava como uma mão máscula, grande, de longos dedos, com um grosso anel de ouro, poderia ter produzido tal “staplaft”?

Uma vez na rua amaldiçoando minha mão, o céu, meu país, a guerra e os miseráveis na sala, que talvez agora estivessem rindo de mim, decidi:

- Nunca mais me meto a ser o salvador da pátria, ser aquele que sabe, ser aquele que dá o primeiro passo. Não, nunca mais!

Agora só espero o fim dessa guerra, a vitória dos inimigos e o fuzilamento de todos os que estavam naquela sala comigo, pois só assim terei coragem para sair à rua outra vez.

Acompanho dia-a-dia, os noticiários do avanço do exército inimigo, em poucos dias, pelos meus cálculos, eles entrarão na cidade. Já estou tomando as devidas providências para recebê-los.

A primeira será um belo discurso de rendição ao exército vitorioso e libertador, e a segunda, a mais complicada por hora, é arrumar uma mesa que não faça “staplaft” quando eu bater com a mão no tampo dela!

Agora é tudo uma questão de tempo, tudo uma questão de tempo...

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