Um cafézinho com marcelo lemos: A preguiça do santo e a santa preguiça:

O menino dava compenetradas voltas em torno do cruzeiro de pedra, naquela fria manhã de domingo. A missa, comemorativa a dia de Santo Antônio, havia terminado a instantes. Naquele ano de 1982, a celebração do Santo que nomeia o convento, tinha um sabor especial para o garoto de 12 anos. Era também um culto de Ação de Graças. Há poucos meses, em uma cama do Hospital dos Estivadores, fez sua primeira comunhão, seguida de sua extrema unção. Desenganado pela meningite, após coma de três dias, “milagrosamente”, começou a se recuperar e apenas uma semana após dar entrada em internação, teve sua alta.

Portanto, o jovem sobrevivente, tinha muito a comemorar. Não satisfeito apenas com sua “plus vita”, não querendo abusar, aproveitou para pedir ao Santo que conseguisse arrumar uma companheira, com quem conseguisse viver, assim como seus pais.

Não foi fácil para este frágil ser, crescer aos rodapés do apaixonado, melado e companheiro casal. Era algo que não era muito comum de se ver na época, a ponto deste suspeitar, não conseguir mais isto se repetir.

Bem, o pedido foi feito!

O menino cresce, começa a trabalhar, passa por várias relacionamentos, muda de cidade, volta para a sua Santos natal e acaba, 15 anos depois, se casando.

Muda novamente de cidade e finalmente, consegue, com sua companheira, construir o que acreditara ser improvável, um relacionamento aos moldes do de seus pais.

Quando dos 20 anos de casado, o casal contando as graças de seu encontro, a esposa fala rindo:

- A primeira lembrança que tenho de ti, é de muito antes de nosso primeiro encontro. Foi de um dia de Santo Antônio, na Igreja do Valongo, tu eras criança ainda e estavas muito sério, dando voltas em torno do cruzeiro.

O silêncio, a revelação do pedido ao santo e a surpreendente constatação:

Por preguiça, o Santo arrumou a que estava ali, mais perto.

SANTA PREGUIÇA!