Uma quase epifania: roberto prado
- Cafe e outras Palavras
- 27 de out. de 2020
- 2 min de leitura

Quando andamos pelas ruas, devemos estar atentos, de olhos bem abertos para os sinais que a vida nos envia. Sempre há alguma coisa no cenário urbano (ou rural, dependendo de onde mora o leitor), que destoa de modo bem sutil.
Ora é um cavalo que coça a orelha - já viram um fazendo isso (coisas terríveis acontecem quando vemos isso)? Ora uma evangélica pregando para uma puta na porta do puteiro.
A palavra puta ofendeu os olhos do leitor?
Desculpe.
Mas quando se ouve uma música chamada “Mulher Que Se Disputa”, temos que estar preparados para tudo, mas não é disso que quero falar, digo, escrever.
Mas sigamos para eu não me perder em elucubrações outras...
Ontem aconteceu a segunda opção. Estava indo embora para casa quando passo em frente a um dos muitos puteiros que há aqui no centro da cidade, quando vejo uma senhora de coque, saia preta sobre os tornozelos, com uma cara resignada de “Ó Senhor! O que faço em teu nome e por um terreno no paraíso”, entregava um folheto de sua igreja e tentava, creio eu, convencer a moça, (hahahahahaha, sim divago) a largar aquela vida de pecado e devassidão.
Olhei para a cara da profissional do amor e balancei a cabeça com um riso sardônico na cara, que me foi retribuído no mesmo tom jocoso.
Segui em frente e atravessei a avenida, ainda com o riso na cara, quando do nada me surge um senhor baixinho, gordo, careca, quase uma réplica de Buda, não fossem os óculos quadrado e um bigode cafajeste na cara com uma pastinha 007 na mão esquerda que dizia:
- Eu também era um pavio-curto, briguento e encrenqueiro, até o dia que me disseram que eu não era um sujeito belicoso, era só por demais orgulhoso. Isso mudou a minha vida!
Olhei para o lado, pesando que ele estivesse falando com outra pessoa que não eu, afinal não sou de conversar com estranhos na rua, ou em qualquer outro lugar, quem me conhece sabe bem disso.
Ele continuou com a arenga até que resolvi cortar o assunto com minha peculiar delicadeza:
- Pois saiba o senhor que não sou belicoso nem orgulhoso, sou apenas muito, muito nervoso!
Pois não é que o sujeito sumiu, não posso afirmar que ele sumiu no ar, haja vista ele não ter demonstrado, à primeira vista, ter a capacidade de voar, mas sumiu tão rápido que pensei ter sido uma alucinação.
Seria um aviso?
Se for, aviso de quê?
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